sábado, 1 de dezembro de 2007

300 exemplos de guerreiros




Acredita-se, na verdade, que o código licúrgico, tanto no campo político como no campo educacional, resultou de uma gradativa adaptação dos espartanos às circunstâncias crescentemente adversas. Quanto maior era a resistência que se lhes deparava na região onde viviam, na Lacedemônia, conhecida pelas suas sucessivas rebeliões e amotinamentos, mais os espartanos enrijeciam-se, mais militarizada se tornava a maneira deles viverem. Enquanto as demais polis gregas passavam por várias e diversificadas experiências institucionais e por diverso regimes políticos, tais como a oligarquia, a tirania e a democracia, Esparta aferrou-se num sistema de castas militarizadas e disciplinadas, dominado superiormente pelos espartiatas, a quem vedavam qualquer atividade que não fosse exclusivamente as lides castrenses, tendo os periecos como uma classe colaboradora, ajudando-os na ocupação ou fazendo o papel de intermediários entre eles e os servos, e , no escalão bem inferior, os hilotas , os escravos da comunidade. Platão, num certo momento, definiu-a como uma timocracia, isto é, a governação pela coragem.
A Agogê, a educação espartana
Em seu próprio significado, a palavra que os espartanos aplicavam para a educação já dizia tudo: agogê , isto é, “adestramento”, “treinamento”. Viam-na como um recurso para a disciplina dos seus jovens. O objectivo maior era formar soldados educados no rigor para defender a colectividade. Assim sendo , temos que entendê-la como um serviço militar estendido à infância e à adolescência. Sabe-se que a criança até os sete anos de idade era mantida com a mãe, mas a partir dos 8 anos enviavam-na para participar numa espécie de bando que era criado ao ar livre, um tanto que ao deus-dará, onde terminavam padecendo sob um regime de permanente escassez alimentar para que desenvolvessem a astúcia e o engenho para conseguir uma ração suplementar. Adestramento muito similar ao que hoje é feito entre os regimentos especiais de combate contra-insurgente ou dos batalhões da floresta.
Castigos físicos
Admitiam pois o ardil e o roubo como artifícios válidos na formação das suas crianças e dos seus jovens. Descobertos em flagrante, no entanto, ministravam-lhes castigos violentíssimos, sendo submetidos à diamastigosis, às supliciantes provas de flagelação pública .Dos 12 aos 15 anos instruíam-nos nas letras e nos cálculos e, naturalmente, no canto de hinos patrióticos do poeta Tirteu que ressaltavam a bravura e a coragem destemida. Na etapa final, entre os 16 e 20 anos, quando denominados de eirén, um pouco antes de entrarem ao serviço da pátria, eram adestrados nas armas, na luta com lanças e espadas, no arco e flecha. Então aumentavam-lhes a carga dos exercícios e a participação de operações militares simuladas nas montanhas ao redor da polis. Como observou Plutarco, o objectivo era que vivessem “como as abelhas que são sempre parte integrantes da comunidade, sempre juntas ao redor do chefe… parecendo consagradas inteiramente à pátria.” Cultivando a excelência da força física, que fazia com que Esparta quase sempre arrebatasse os louros nos jogos olímpicos, actuavam em bandos liderados por um proteiras, um líder de esquadra, uma espécie de sargento instrutor, que lhes ensinava as táticas da arte da sobrevivência. Nesse momento do agogê, perfilava-se o que Esparta desejava do seu jovem: silencioso, disciplinado , anti-intelectual e anti-individualista, obediente aos superiores, vigoroso, ágil, astuto , imune ao medo, resistente às intempéries e aos ferimentos, odiando qualquer demonstração de covardia, fiel ao esprit de corps e fanaticamente dedicado à cidade.
O culto da coragem
O objectivo final de tudo isto era o de desenvolver exclusivamente a coragem (thimos). O jovem, transformado num soldado, não teria receio de nada que envolvesse as artes militares, as manobras em campos de batalha ou as ameaças dos inimigos da colectividade. A coragem, acima de tudo, era uma obsessão espartana. Consequentemente não apreciavam nenhum tipo de tolerância.

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