domingo, 9 de dezembro de 2007

Uso freqüente da maconha pode provocar transtornos

O consumo de maconha pode afetar a saúde mental. Embora os principais sintomas descritos pelos usuários estejam relacionados a sensações de tranqüilidade e relaxamento, efeitos inesperados podem desencadear transtornos psíquicos, principalmente entre indivíduos que apresentam predisposição genética para alguma forma de desequilíbrio mental.
A Associação Brasileira de Psiquiatria - ABP elaborou um documento de revisão, com base em evidências científicas, sobre os efeitos psicoativos e comportamentais do uso da maconha. O assunto será debatido, junto a outros temas, durante o XXIII Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que acontece de 12 a 15/10, no Minascentro. Os riscos para a saúde estão relacionados à quantidade e freqüência com que a droga é consumida, segundo o Diretor da ABP, João Carlos Dias.
A combinação entre fatores individuais e a ação da droga é a principal causa dos transtornos mentais associados ao consumo de maconha. “Há uma associação consistente entre o uso de Cannabis e o primeiro surto psicótico em indivíduos jovens”, alerta João Carlos. “O uso aumenta o risco de incidência de esquizofrenia em indivíduos com ou sem outros fatores predisponentes e leva a um pior prognóstico para aquelas pessoas que são mais vulneráveis a um transtorno psicótico.”
Falar em dependência pode soar exagerado para muitos usuários. Mas, entre os pacientes em busca de tratamento no Centro Mineiro de Toxicomania, a maconha é a segunda droga mais consumida, ao lado do crack. “A maioria dos pacientes que nos procuram para tratamento são dependentes de álcool; em seguida, vêm os consumidores de maconha e crack”, afirma a Chefe da Divisão Assistencial da instituição, Maria Wilma Santos de Faria. Ela ressalta, no entanto, que é preciso verificar o tipo de relação que o indivíduo estabelece com a maconha para tratá-lo como dependente. “A intensidade do consumo, muitas vezes, revela o grau de dependência”, explica. “Há casos de uso esporádico e de pessoas que experimentam a droga e não se transformam em dependentes.
Quem desenvolve uma relação compulsiva e começa a recorrer à droga para aliviar sentimentos de angústia e ansiedade, por exemplo, precisa de atenção especial.”
Sofisticação do cultivo tem aumentado a potência da maconha.
Atenção especial não significa, necessariamente, internação clínica. João Carlos afirma que muitos pais tomam medidas desnecessárias, como levar os filhos para clínicas, por falta de informação. “Diante de qualquer indicativo de uso, é preciso estabelecer o diálogo, sem preconceitos, antes de tomar providências. Muitos jovens experimentam e não têm problema nenhum”, afirma. Quadros de depressão podem levantar suspeitas dos pais em relação ao uso de maconha. Segundo João Carlos, “o consumo intenso de Cannabis pode aumentar os sintomas de depressão em alguns usuários. Entretanto, há poucas evidências de associação entre o uso infreqüente e o diagnóstico da doença”.
Os usuários contemporâneos devem estar cientes de que a suposta fonte de paz e amor da geração Woodstock já não é mais a mesma. Nos últimos 20 anos, as modificações no cultivo alteraram a concentração de THC - delta-9-tetrahydrocannabinol, expondo o usuário a doses da substância cerca de 15 vezes mais potentes, fator que pode estar relacionado a síndromes de dependência. “A sofisticação do cultivo da planta com técnicas hidropônicas tem aumentado muito a potência de todos os derivados da Cannabis”, alerta João Carlos.
Fonte:Jornal Estado de Minas - MG

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